A acepção da
mais-valia está associada à exploração da mão de obra assalariada, em que o
capitalista recolhe o excedente da produção do trabalhador como lucro.
Capitalismo, trabalho
assalariado e valor de troca
A mais-valia é o
termo utilizado por Karl Marx em alusão ao processo de
exploração da mão de obra assalariada que é utilizada na produção de
mercadorias. Trata-se de um processo de extorsão por meio da apropriação do
trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca. Para entendermos
melhor, precisamos considerar que Marx via o trabalho como:
“(...)
um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser
humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio
material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças.
Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e
mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma
útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao
mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela
adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais.”*
Portanto, o trabalho era
o ato definidor do homem, seu meio direto de interação com o mundo e,
ainda mais importante, a forma como garantiria sua sobrevivência no mundo
anterior ao período vivido por Marx, isto é, um mundo agrário onde o ser humano
tinha ligação direta com a terra, de onde tirava seu sustento. Porém, isso se
modificou na nova sociedade que surgiu no período que sucedeu a Revolução
Industrial, que se baseou no sistema econômico do capitalismo.
Para Marx, o capitalismo baseia-se
na relação entre trabalho assalariado e capital,
mais especificamente na produção do capital por meio da expropriação do valor
do trabalho do proletário pelos donos dos meios de produção. A esse
fenômeno Marx deu o nome de mais-valia.
Todavia, antes de entendermos o
conceito da mais-valia, é preciso entender que, assim como outros teóricos da
economia, como Adam Smith e David Ricardo, Karl Marx sustentava a ideia de que o
valor de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho
aplicado em sua produção. O próprio trabalho, de acordo com Marx, possui
valor agregado, que é determinado pelo valor dos meios de subsistência (comida,
habitação, transporte etc.) necessários para que o trabalhador sobreviva. Dessa
forma, todo trabalho empregado na produção de um sapato, por exemplo, agrega
custos em seu valor de troca final.
Nesse processo, a força de
trabalho comprada pelo proprietário dos meios de produção por meio do
salário pago ao trabalhador também se torna uma mercadoria, que
é comprada para que o produto seja manufaturado. No curso da
produção, o trabalho utilizado na produção agrega valor ao produto
final, que é vendido pelo capitalista pelo valor de troca determinado
pelo mercado.
Entretanto, não é suficiente para o
capitalista que o valor de venda do produto seja igual ao valor que ele
investiu inicialmente. O dono dos meios de produção deseja obter lucros,
o que não pode fazer vendendo o produto mais caro do que seu preço de mercado.
O trabalhador, por sua vez, espera receber pela quantidade de trabalho que
empregou na produção da mercadoria em questão. É aqui que Marx verifica o
fenômeno da mais-valia. O empregador, para que obtenha lucro em sua transação,
exige uma quantidade maior de força de trabalho do que
paga para o trabalhador, que se vê obrigado a trabalhar além do que
lhe é pago, pois só receberá seu salário se cumprir com o que foi proposto.
Mais-valia absoluta e Mais-valia
relativa
A partir do conceito de mais-valia,
Marx fez distinção de duas formas de extorsão da força de trabalho: a mais-valia
absoluta e a mais-valia relativa.
Mais-Valia absoluta
Mais-valia absoluta
Ocorre em função do aumento do ritmo de trabalho, da vigilância sobre o processo de
produção ou mesmo da ameaça da perda do trabalho caso determinada meta não
fosse alcançada, ainda que em detrimento da saúde e do bem-estar do
trabalhador. O empregador exige maior empenho na produção sem oferecer nenhum
tipo de compensação em troca e recolhe o aumento da produção de excedentes em
forma de lucro.
Mais-valia relativa
Está ligada ao processo de avanço científico e do progresso tecnológico. Uma vez que não consegue mais aumentar a produção por meio da maior exigência de seus empregados, o capitalista lança mão de melhorias tecnológicas para acelerar o processo de produção e aumentar a quantidade de mercadoria produzida. Esse processo acontece sem que, no entanto, seja oferecida qualquer bonificação ao trabalhador. Este passa ser aos poucos substituído pelo maquinário tecnológico, de modo que a quantidade de trabalho social é diminuída e a mão de obra humana é trocada por uma mão de obra mecânica.
Entre o arcabouço teórico das obras marxistas, o conceito de mais-valia é central para a discussão sobre as relações de trabalho que surgiram nas sociedades capitalistas. As obras de Karl Marx, mais especificamente seu trabalho mais citado, “O capital”, foram enormes empreendimentos dedicados à compreensão das profundas relações existentes na nova configuração social que surgiu em seu tempo. Marx, assim como outros estudiosos de sua época, estava preocupado com os novos problemas sociais que se agravavam nos centros urbanos. Sua proximidade com os movimentos trabalhistas da época influenciou profundamente seus trabalhos e sua forma de abordagem dos fenômenos associados à nova configuração do sistema econômico que surgia.
*Referência: MARX, Karl. O capital, Volume I – Trad. J. Teixeira Martins e Vital Moreira, Centelha - Coimbra, 1974.
Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br
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