sexta-feira, 13 de abril de 2018
Os homens de bem, os puteiros e a prisão de Lula
Os homens de bem comemoram a prisão de Lula em um puteiro. No
ritual macabro, o dono do bordel amarra uma funcionária, arranca sua calcinha e
torce seu pescoço na frente de outros homens de bem que bebem a cerveja servida
de graça pelo cafetão.
No alto da
cena, como a ungir aquela entidade satânica, lá estão as fotos emolduras da
presidente do STF e do juiz Sergio Moro. Duas fotos para um mesmo retrato. O
retrato do país onde os homens de bem que aplaudem a tortura de prostitutas
nuas em praça pública são os mesmos homens de bem que condenam a nudez de uma
exposição de arte nas galerias de um museu.
Os homens
de bem estão no puteiro da sala de casa, em frente à TV, berrando contra o
personagem gay da novela e relativizando o assassinato da vereadora negra e
favelada. Os homens de bem não querem a lei. Os homens de bem querem o
cassetete, o tiro, a porrada, a bomba.
Os homens
de bem não querem saber de provas. Querem condenar. Para os homens de bem, não
importa se Lula é culpado ou inocente, não importa se o processo foi acelerado,
não importa se a constituição foi rasgada.
Para os
homens de bem, primeiro a gente tira a Dilma, depois...
Depois a
gente tira o Temer, mas o congresso não deixou.
Depois a
gente tira o Aécio, mas a Carmen Lúcia não deixou.
Depois a
gente tira o Renan, mas o Gilmar não deixou.
Depois a
gente tira o Alckimin, mas ele tem foro privilegiado, é outra história.
Pois é. O
foro acabou, mas a procuradora não deixou. Mandou tudo para o TRE e retirou o
processo da lava-jato.
Os homens
de bem não se importam em ter uma justiça seletiva. Os homens de bem ignoram as
malas do Rodrigo Temer Loures, as contas na Suíça do José Serra, os esquemas do
João Dória, todos livres, leves e soltos. Os homens de bem são bem simples:
eles só querem jogar Lula do avião.
E, se
possível, jogam também a Gleise, a Manuela, o Boulos e todo aquele povo do
nordeste que mama nas tetas do bolsa-família, com 85 reais por mês. São
vagabundos, não são homens de bem para os homens de bem.
Para os
homens de bem, a justiça é um puteiro. Mas não é um puteiro comum. É um puteiro
supremo, com direito a suingue e chicotada, com tudo. E o que eles gostam não é
de um simples ménage à trois, mas de um 6 a 5, bem gostoso, como nas melhores
putarias.
Putarias do
bem, é claro.
FELIPE PENA
Jornalista, psicólogo e professor da UFF.
Doutor em literatura pela PUC-Rio, com pós-doutorado pela Sorbonne III, foi
visiting scholar da NYU e é autor de 15 livros, entre eles o ensaio "No
jornalismo não há fibrose", finalista do prêmio Jabuti
Fonte:
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/felipepena/351041/Os-homens-de-bem-os-puteiros-e-a-pris%C3%A3o-de-Lula.htm
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Lula, o carismático líder servidor
Nenhuma sociedade reforça sua identidade senão através de grandes
símbolos que lhe conferem foco e que lhe apontam uma direção. Estes símbolos se
encontram nos monumentos referenciais como o Cristo do Corcovado, ou numa
inteira cidade como Brasíia ou as imagens dos profetas de Aleijadinho, nas
estátuas que enfeitam as praças e outras. Os nomes das ruas reavivam a memória
de escritores, de poetas, de artistas e de figuras que permanecem na
consciência coletiva. No mundo político não se pode negar a predominância de
Getúlio Vargas, um dos maiores líderes políticos de nossa história, que deu
outro rumo ao Brasil e o introduziu no mundo moderno, beneficiando
particularmente a classe trabalhadora.
Nesta linha se
situa a figura de Luiz Inácio Lula da Silva. Ninguém pode negar-lhe o carisma
de que é possuído, reconhecido nacional e internacionalmente. O decisivo de sua
figura carismática é que provem das classes abandonadas pelas elites que sempre
ocuparam o Estado e elaboraram políticas que os beneficiavam, de costas para o
povo. Nunca tiveram um projeto para o Brasil, apenas para si mesmas.
De repente,
irrompe Lula no cenário político com a força de um carisma excepcional,
representando as vítimas da tragédia brasileira, marcada por uma
desigualdade-injustiça social das maiores do mundo. Mesmo tendo que aceitar a
lógica do mercado capitalista, perversa porque excludente e por isso,
anti-democrática por natureza, conseguiu abrir brechas que beneficiaram milhões
de brasileiros começando com o programa da Fome Zero e completada por várias
outras políticas sociais.
Os que o
criticam de populismo e de assistencialismo não sabem o que é a fome que Gandhi
afirmava ser ela "um insulto; ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o
espírito; é a forma mais assassina que existe". Sempre que se faz
algo em benefício dos mais necessitados, logo surge a crítica das elites
endinheiradas e de seus aliados, de populismo e de assistencialismo quando não
de uso político dos pobres. Esquecem o que é elementar numa sociedade
minimamente civilizada: a primeira tarefa do Estado é garantir e cuidar da vida
de seu povo, e não deixá-lo na exclusão e na miséria que vitimam suas crianças
e os fazem morrer antes do tempo. A onda de ódio e de difamação que grassa
atualmente no país nasce do espírito dos herdeiros da Casa Grande: o desprezo
que dedicavam aos escravos o repassaram aos pobres, aos negros, especialmente
às mulheres negras e outras pobres.
Lula com seus
projetos de inclusão não apenas saciou a fome e atendeu a outras necessidades
de quase 40 milhões de pessoas, senão que lhes devolveu o mais importante que é
a dignidade e a consciência de que são cidadãos e filhos e filhas de Deus.
O verdadeiro
lider serve a uma causa além de si mesmo. Lula, filho da pobreza nordestina, se
propôs como Presidente que nenhum brasileiro precisasse passar fome. Quantas
vezes o ouvi pessoalmente dizer que todo o sentido de sua vida e de sua
política é dar centralidade aos pobres e arrancá-los do inferno da miséria.
Outra vez, vindo de carro com ele de São Bernando, passando por um lugar ermo
fez parar o carro para me confessar: "muitas vezes, saindo da fábrica,
sentei aqui nesse capim e chorava porque não tinha nada para levar para meus
irmãos que em casa que passavam fome". Como Chefe de Estado quis
criar as condições para que ninguém precisasse chorar por causa da fome.
Lula foi e é um
líder servidor desta causa. O líder carismático servidor fala para o profundo
das pessoas. Dai nasce o entusiasmo e atração que todo líder suscita. Quantas
vezes, nas minhas andanças pelas comunidades da periferia ouvi esta frase: "Lula
foi o único que pensou em nós pobres e fez coisas boas para nós".
Dele se podem apontar limitações que pertencem à humana condição, até equívocos
políticos, mas jamais se poderá dizer que abandonou o propósito básico de sua
vida e de sua ação política. Sinal disso é o fato de que passava os Natais com
os mendigos, cuidados pelo Padre Júlio Lancelotti, debaixo da ponte em São
Paulo. Encontrava seus irmãos e irmãs de destino, mostrando-lhe solidariedade e
companhia.
A sanha dos que
querem o Brasil dos privilégios para poucos, conseguiram aprisioná-lo. Mas o
sonho de um Brasil rico porque não tem miseráveis jamais pode ser aprisionado.
Lula com seu sonho é imorredouro e se faz, como se diz na tradição judaica, "um
justo entre as nações".
Esses poucos
exemplos aduzidos mostram como se pode ser líder político servidor do povo e
suscitar em seus seguidores o mesmo espírito de serviço solidário e
construtivo.
Tal atitude
aponta para um outro tipo de Brasil que queremos e merecemos, animado por
representantes que fazem da política, no dizer de Gandhi, "um gesto amoroso para com
povo e um cuidado por tudo aquilo que é comum". Lula se inscreve
nesta honrosa tradição.
Leonardo Boff é filósofo, teólogo e professor aposentado
de Ética da UERJ
Fonte:
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/leonardoboff/350870/Lula-o-carism%C3%A1tico-lider-servidor.htm
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Resenha: A política atual e os princípios do Príncipe de Maquiavel
A maioria
das pessoas não gosta de falar sobre política por acharem que se trata de um
instrumento de dominação e extorsão da massa e um meio de obtenção de
benefícios particulares (corrupção). Elas estão cobertas de razão.
A
política sob o prisma de Maquiavel é uma arte. Arte de dominação, de disputa de
força e poderes e conquistas de territórios. Ela não nega seu papel, seu
objetivo sempre foi manter os domínios do governante e o seu poderio. Marco
Aurélio Nogueira em sua Obra "Em Defesa da Política"
diz que por sua própria natureza a política sempre está preste a se tornar um
horror e a ela sempre estará associada coisas tão complicadas como interesses,
ambições, poder, autoridade, força e persuasão.
Segundo
Maquiavel, para se manter no poder é necessário que o governante seja amado
pelo seu povo e estimado por ele. Que não é necessário possuir muitas
qualidades, mas aparentar tê-las é útil.
É bom
que ele se pareça piedoso, humano, íntegro, mas que saiba se converter ao
oposto quando necessário. Assim é a nossa política hoje, poderíamos tomar como
exemplos os candidatos reeleitos porque são estimados pelo povo, porque, de
certa forma, demonstraram ser a pessoa ideal para assumir aquele governo, que
defende o povo e zela por ele, muito embora seu verdadeiro objetivo seja
manter-se no poder por questões que não são necessariamente políticas, podendo
ser interesses totalmente pessoais ou simplesmente pelo desejo da dominação e
poder.
Dessa
forma que o príncipe deveria se portar, para ele não havia um motivo, um bem
maior social para se manter no poder, era simplesmente pelo poder. O tipo de
governante ditado por Platão, que deveria ser filósofo, pois não se importaria
com seus próprios interesses não é aqui admirado por Maquiavel nem mesmo pelos
nossos políticos atuais.
Para
Rousseau, na obra "O príncipe"
de Maquiavel, ele tentava ensinar lições ao povo e não necessariamente aos
príncipes, como um objetivo de ensinar ao povo as estratégias e artimanhas
políticas. Rousseau em seu Contrato Social, afirmou que "parece natural que o príncipe sempre
prefira a máxima que lhe seja imediatamente útil. (...) é o que Maquiavel fez
ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, deu-as, grandes, aos
povos".
Sem
dúvida, Maquiavel fez saber a todos o jogo da Política e demonstrou a
necessidade do povo de se proteger dos maus governantes, facilitando o diálogo
do povo com o poder.
Quando
a sociedade se afasta da política e termina por votar mal, é porque não tem
conhecimento da verdadeira relação que possui com seu governo. Ao desvendar
isto, conhecendo melhor este jogo é possível se fazer uma análise mais
ponderada a quem dará o seu voto, por exemplo. Não se pode afirmar que este
será o melhor governante, porém o voto tornou-se mais consciente e sem a
ingenuidade do discurso de que "todos são iguais".
Nogueira
também ajuda a ver a política de outra forma, avaliando o lado positivo e
negativo do poder. Traduzindo para a linguagem comum o porquê de muitas
práticas políticas que sob olhos que ignoram o real sentido, parecem ilícitos.
Ainda
se tenta ensinar às pessoas a política velha, da época medieval, que ditava as
regras para um governo ideal, e não mostram a verdadeira política e a forma de
agir dos governantes. Isto causou desgosto e distanciamento da população em
relação a política, pois a ideia registrada sobre política se choca com o
cenário real. Isto não quer dizer que não exista uma boa política.
Segundo
Nogueira, a política com muita política está "concentrada na busca do bem comum, no aproveitamento civilizado
do conflito e da diferença, na valorização do diálogo, do consenso e da
comunicação, na defesa da crítica e da participação, da transparência e da
integridade".
Essa
política com muita política é chamada "Política dos Cidadãos", é
um fenômeno de massa. Mas para que ela seja praticada é necessário que haja uma
limpeza nos políticos atuantes hoje e o conhecimento da política como ela
realmente é, apesar de possuir muita ou pouca política, é pressuposto para esta
limpeza.
A
Participação do povo é essencial e útil na medida em que ele conhece e se
integra a política, pois se não continuará sendo objeto de domínio e
manipulação para o benefício dos poderosos.
Resenha
baseada no livro de Marco Aurélio Nogueira, Em defesa da Política.
Autora: Juliana Valente
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