Por
Francisco Ferraz.
Saber
quando agir e quando esperar é um conhecimento que distingue o verdadeiro
príncipe sábio dos governantes comuns. Os inimigos do príncipe estão sempre
esperando por uma oportunidade para a conquista do poder.
Governar
é mandar, decidir; mas governar é também saber que por vezes é sábio fazer
concessões para evitar que as divergências se transformem em ódio. Mas a
concessão deverá ser feita no tempo certo e na medida certa. Concessão no tempo
certo pode ser definida como a regra de prudência que aconselha a faze-la:
“…quando eles ainda não são tão fortes
a ponto de poder exigi-las e o príncipe não é mais tão forte, para
continuar negando-as.”
A
decisão mais comum dos governantes não é a antecipação. Esta é a razão pela
qual muitos são derrubados pelos seus inimigos. Antecipar-se é agir antes que
as causas dos problemas amadureçam, antes que se revelem por completo.
Portanto, para o governante, antecipação implica sempre em risco.
O
problema está em saber distinguir uma atitude da outra. Isto é, quando se deve
esperar para agir, e quando o correto é antecipar-se.
A
reação mais frequente dos governantes é não ceder à pressão dos adversários.
Ceder lhes parece um sinal de fraqueza política, o reconhecimento de que se
estava errado, portanto, um “remédio amargo de engolir”.
Mas
é preciso estar atento. O sinal de alerta para a necessidade de antecipação é a
presença de uma situação de agravamento crescente. Nestas situações, o príncipe
pode evitar que as queixas se transformem em revolta se concessões forem feitas
“quando os revoltosos não sejam tão fortes para exigi-las e o príncipe também
não for mais tão forte para poder nega-las”.
Como
as queixas precisam ser públicas para ganhar apoio, o príncipe encontrará muito
do que precisa saber na maneira como os inimigos conduzem sua luta. O inimigo
perigoso é o que dispõe sua ação de menos para mais. Assim vai adquirindo
informações preciosas sobre o poder verdadeiro do governante.
Agindo
com cautela e observando as ações do inimigo, o príncipe deve estar atento à
maneira como agem os próprios adversários: a queixa de hoje, torna-se a
exigência mínima de amanhã, e a imposição de depois de amanhã. O que o príncipe
não pode fazer é assistir ao agravamento dos problemas passivamente.
Em
situações como essas, o príncipe tendo sua autoridade contestada; assistindo
impotente seus súditos criarem movimentos de revolta contra seu governo;
presenciando a emergência de novos líderes populares e agressivos ;
acompanhando, com justa preocupação, a escalada de exigências e o aumento
da agressividade; sentindo-se então ameaçado no seu poder, decide por fim fazer
concessões que não são mais gestos de sua vontade desimpedida e livre, e sim
uma rendição à pressão que está sofrendo, ao temor de ser derrubado do poder.
Por
outro lado, situações em que a insatisfação do povo não se manifesta de modo
crescente, que os fatos não se acumulam de forma a agravar mais a situação é
prudente esperar, observar e pensar, para que se consiga obter uma visão mais
precisa e realista da situação antes de agir.
Prudência
política neste caso não equivale, pois, nem à ousadia que precipita a ação e
agrava a situação, nem tampouco a timidez ou arrogância, que travam a ação,
quando ela era necessária.
O
príncipe, portanto, nunca deve esquecer a advertência de séculos:
“Problemas sérios, no início, são difíceis de
identificar, mas são fáceis de resolver; com o tempo, eles tornam-se fáceis de
reconhecer, mas difíceis de resolver.”