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sexta-feira, 17 de abril de 2020

Quando agir e quando esperar

Por Francisco Ferraz.




Saber quando agir e quando esperar é um conhecimento que distingue o verdadeiro príncipe sábio dos governantes comuns. Os inimigos do príncipe estão sempre esperando por uma oportunidade para a conquista do poder.

Governar é mandar, decidir; mas governar é também saber que por vezes é sábio fazer concessões para evitar que as divergências se transformem em ódio. Mas a concessão deverá ser feita no tempo certo e na medida certa. Concessão no tempo certo pode ser definida como a regra de prudência que aconselha a faze-la:

 “…quando eles ainda não são tão fortes a ponto de poder exigi-las e o príncipe  não é mais tão forte, para continuar negando-as.”

A decisão mais comum dos governantes não é a antecipação. Esta é a razão pela qual muitos são derrubados pelos seus inimigos. Antecipar-se é agir antes que as causas dos problemas amadureçam, antes que se revelem por completo. Portanto, para o governante, antecipação implica sempre em risco.

O problema está em saber distinguir uma atitude da outra. Isto é, quando se deve esperar para agir, e quando o correto é antecipar-se.

A reação mais frequente dos governantes é não ceder à pressão dos adversários. Ceder lhes parece um sinal de fraqueza política, o reconhecimento de que se estava errado, portanto, um “remédio amargo de engolir”.

Mas é preciso estar atento. O sinal de alerta para a necessidade de antecipação é a presença de uma situação de agravamento crescente. Nestas situações, o príncipe pode evitar que as queixas se transformem em revolta se concessões forem feitas “quando os revoltosos não sejam tão fortes para exigi-las e o príncipe também não for mais tão forte para poder nega-las”.

Como as queixas precisam ser públicas para ganhar apoio, o príncipe encontrará muito do que precisa saber na maneira como os inimigos conduzem sua luta. O inimigo perigoso é o que dispõe sua ação de menos para mais. Assim vai adquirindo informações preciosas sobre o poder verdadeiro do governante.

Agindo com cautela e observando as ações do inimigo, o príncipe deve estar atento à maneira como agem os próprios adversários: a queixa de hoje, torna-se a exigência mínima de amanhã, e a imposição de depois de amanhã. O que o príncipe não pode fazer é assistir ao agravamento dos problemas passivamente.

Em situações como essas, o príncipe tendo sua autoridade contestada; assistindo impotente seus súditos criarem movimentos de revolta  contra seu governo; presenciando a emergência de novos líderes populares e agressivos ; acompanhando,  com justa preocupação, a escalada de exigências e o aumento da agressividade; sentindo-se então ameaçado no seu poder, decide por fim fazer concessões que não são mais gestos de sua vontade desimpedida e livre, e sim uma rendição à pressão que está sofrendo, ao temor de ser derrubado do poder.

Por outro lado, situações em que a insatisfação do povo não se manifesta de modo crescente, que os fatos não se acumulam de forma a agravar mais a situação é prudente esperar, observar e pensar, para que se consiga obter uma visão mais precisa e realista da situação antes de agir.

Prudência política neste caso não equivale, pois, nem à ousadia que precipita a ação e agrava a situação, nem tampouco a timidez ou arrogância, que travam a ação, quando ela era necessária.

O príncipe, portanto, nunca deve esquecer a advertência de séculos:

“Problemas sérios, no início, são difíceis de identificar, mas são fáceis de resolver; com o tempo, eles tornam-se fáceis de reconhecer, mas difíceis de resolver.”