Os homens de bem comemoram a prisão de Lula em um puteiro. No
ritual macabro, o dono do bordel amarra uma funcionária, arranca sua calcinha e
torce seu pescoço na frente de outros homens de bem que bebem a cerveja servida
de graça pelo cafetão.
No alto da
cena, como a ungir aquela entidade satânica, lá estão as fotos emolduras da
presidente do STF e do juiz Sergio Moro. Duas fotos para um mesmo retrato. O
retrato do país onde os homens de bem que aplaudem a tortura de prostitutas
nuas em praça pública são os mesmos homens de bem que condenam a nudez de uma
exposição de arte nas galerias de um museu.
Os homens
de bem estão no puteiro da sala de casa, em frente à TV, berrando contra o
personagem gay da novela e relativizando o assassinato da vereadora negra e
favelada. Os homens de bem não querem a lei. Os homens de bem querem o
cassetete, o tiro, a porrada, a bomba.
Os homens
de bem não querem saber de provas. Querem condenar. Para os homens de bem, não
importa se Lula é culpado ou inocente, não importa se o processo foi acelerado,
não importa se a constituição foi rasgada.
Para os
homens de bem, primeiro a gente tira a Dilma, depois...
Depois a
gente tira o Temer, mas o congresso não deixou.
Depois a
gente tira o Aécio, mas a Carmen Lúcia não deixou.
Depois a
gente tira o Renan, mas o Gilmar não deixou.
Depois a
gente tira o Alckimin, mas ele tem foro privilegiado, é outra história.
Pois é. O
foro acabou, mas a procuradora não deixou. Mandou tudo para o TRE e retirou o
processo da lava-jato.
Os homens
de bem não se importam em ter uma justiça seletiva. Os homens de bem ignoram as
malas do Rodrigo Temer Loures, as contas na Suíça do José Serra, os esquemas do
João Dória, todos livres, leves e soltos. Os homens de bem são bem simples:
eles só querem jogar Lula do avião.
E, se
possível, jogam também a Gleise, a Manuela, o Boulos e todo aquele povo do
nordeste que mama nas tetas do bolsa-família, com 85 reais por mês. São
vagabundos, não são homens de bem para os homens de bem.
Para os
homens de bem, a justiça é um puteiro. Mas não é um puteiro comum. É um puteiro
supremo, com direito a suingue e chicotada, com tudo. E o que eles gostam não é
de um simples ménage à trois, mas de um 6 a 5, bem gostoso, como nas melhores
putarias.
Putarias do
bem, é claro.
FELIPE PENA
Jornalista, psicólogo e professor da UFF.
Doutor em literatura pela PUC-Rio, com pós-doutorado pela Sorbonne III, foi
visiting scholar da NYU e é autor de 15 livros, entre eles o ensaio "No
jornalismo não há fibrose", finalista do prêmio Jabuti
Fonte:
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/felipepena/351041/Os-homens-de-bem-os-puteiros-e-a-pris%C3%A3o-de-Lula.htm
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