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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Corrupção, delações, gravações e outras coisas: Não podemos achar que não temos nada a ver com tudo isso!

Por Herval Sampaio e Joyce Morais




"A corrupção mata. A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. É um serial killer que se disfarça de buraco de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza”.

A frase é do Procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, em discurso à Câmara dos Deputados ano passado. Resumiu em poucas palavras o estrago que a corrupção provoca e que muitas pessoas insistem em não enxergar a gravidade, como sempre está sendo alertado nesse espaço em diversos textos de esclarecimento sobre tais males, contudo insistimos em polarizar de forma radical tudo o que está acontecendo, porque aqui a política e politicagem sempre fala mais alto. 

A corrupção nunca esteve tão escancarada por esses lados. Nem nas nossas piores análises e rodas de conversa se poderia imaginar o tamanho da roubalheira no Brasil. Faz parecer que o modelo de política no país, é o modelo da corrupção, da cara de pau, da desonestidade, do desvio de dinheiro público e das falsas alianças.
Um modelo que permite a entrada de qualquer pessoa, mas que só deixa permanecer aquela que estiver aberta a esse tipo de negociações, um caminho sem volta e sem muitas escolhas, a não ser se corromper, transformando a relação de muitos políticos e autoridades em um círculo vicioso e pernicioso em que a busca e manutenção pelo poder vale tudo, inclusive continuar corrompendo quando não imaginávamos que seria possível tamanha ousadia. Parece não haver limites.
Mas não é essa a impressão que se deve ter, por mais óbvia que seja, não é o correto e, portanto, não podemos baixar a cabeça e aceitar calados como tudo isso fosse normal e não tivesse jeito. Tudo que estamos vendo acontecer: escândalos, delações, notícias de corrupção e oferecimento de propinas, nada disso é novo, nada aconteceu apenas ontem. O que talvez seja diferente e elogiável é toda essa exposição e o começo de punições a pessoas que antes seria também inimaginável.
É uma vergonhosa prática que acontece há muitos governos e vem se perpetuando como algo imperativo e intrínseco, corroendo o nosso sistema de tal jeito que em outros lugares se vê como tópico, aqui se normalizou e institucionalizou a corrupção e vários políticos e autoridades só sabem exercer seus cargos dessa forma.

E não existe essa conversa que partido A ou B é menos corrupto ou está sendo perseguido. É preciso abrir nossas mentes e nossos olhos, deixando as paixões partidárias e interesses pessoais de lado e aceitar que a corrupção é sistêmica e estrutural e pode estar em todos os lugares.
A corrupção, o Judiciário e o Ministério Público possuem uma coisa em comum: provaram que a desonestidade não tem ideologia, nem partido e que todos podem ser investigados e punidos.

E falando em punição, ou melhor, em impunidade, temos a sensação de que é inaceitável que os delatores sócios da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, tenham recebido tantos benefícios. Alguns especialistas argumentam que as vantagens são calculadas com base na força das provas apresentadas. Se juridicamente o acordo é possível, até mesmo que se conceda o perdão judicial, socialmente ele não foi bem visto pela população que considerou uma total impunidade. Mas será que foi isso mesmo?
Nesse caso da JBS, que revelou esquema de corrupção em grandes proporções, a pena aos irmãos Batista, em tese, pode não ter sido adequada, eis que se resumiu a uma multa e ainda não se fechou o acordo de leniência com a empresa, que só queria pagar 1 bilhão e o MPF quer que se pague 11 bilhões, e já se ofertou 4 bilhões, tendo também havido recusa do Parque, contudo sinceramente, não temos os dados concretos e as devidas relações com as demais delações, logo qualquer conclusão do acerto ou desacerto do ato, nos parece temerária e as conclusões de lado a lado são normais, só não sendo as nossa.
Dizemos isso por entender que de modo muito claro os irmãos Batista mesmo sendo investigados junto com suas empresas e na realidade o grupo todo, colaboraram de forma espontânea e trazendo dados atuais, que nos assustaram desde a semana passada, logo isso não pode ser desconsiderado.
Por outro lado, pelo que se noticiou, eles sequer serão acusados pela Procuradoria Geral da República e isso tem causado revolta. Como justificativa em comparação à delação de Marcelo Odebrecht, avaliam que este resistiu em colaborar com as investigações e ao ser preso em junho de 2015 pela Polícia Federal, resolver delatar acerca de fatos passados.
Os irmãos Batista, por sua vez, ao tomarem conhecimento de que estavam sendo investigados, propuseram à PGR o acordo de delação premiada, citaram fatos presentes e incriminaram o presidente da República, Michel Temer. Por isso, a diferença entre os benefícios concedidos, segundo a acusação e pensamos que as conclusões de lado a lado são precipitadas.
Embora o instituto da delação premiada permita, é moralmente inaceitável que os donos da JBS saiam praticamente ilesos de toda essa sujeira sem que se comprove a extensão de tudo que foi efetivamente dito e comprovado pelos mesmos, pois a cena da saída do país, por si só, é muito forte.
Nós, que criticamos tantos os políticos, não podemos esquecer que eles não agem sozinhos, e todos indistintamente precisam ser igualmente punidos. Quem aceita a propina, não pode ter sua pena maior ou menor do que o daquele que oferece. Todos, em tese, cometeram crime e terão que pagar por seus atos, dimensionando com todas as particularidades o auxílio daqueles que resolveram se entregar.

Assim, independentemente do candidato em quem você votou, se ele está envolvido, investigado ou condenado por algum crime, ou se nem sequer foi citado, você precisa se comprometer mais com o país, recuperar o gosto pela política, fiscalizar, denunciar, observar candidatos que estejam realmente comprometidos com a mudança. Há de existir e temos a certeza que tem, basta se conscientizar que a culpa também é nossa e que temos responsabilidade com tudo que estamos vendo.
Não estamos falando de time de futebol, onde torcemos cada um pra um lado. Aqui estamos todos no mesmo barco. Podemos nos salvar ou afundar juntos.


Fonte:
https://joseherval.jusbrasil.com.br/artigos/462918706/delacoes-gravacoes-e-outras-coisas-inimaginaveis-em-um-pais-serio-podemos-nos-salvar-ou-afundar-juntos?utm_campaign=newsletter-daily_20170526_5345&utm_medium=email&utm_source=newsletter

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