O importante não é viver,
mas viver segundo o bem.
SÓCRATES
Há mais alegria em dar
do que em receber.
JESUS
Que todos os seres sejam felizes.
Nascidos ou ainda por nascer,
que sejam todos perfeitamente felizes.
BUDA
Sócrates,
Jesus e Buda
nos ensinam a viver. O testemunho de suas vidas e o ensino que eles propõem é
universal. A mensagem deles centra-se no ser individual e em seu crescimento, sem
jamais negar a necessária inserção no corpo social. Sugere uma sábia dosagem de
liberdade e de amor, de autoconhecimento e de respeito pelo outro. Embora se
enraíze de diversas formas em bases de crenças religiosas, ela nunca é
friamente dogmática: sempre tem sentido e recorre à razão. E também fala ao
coração.
Jesus chega de manhã cedo ao átrio do Templo de Jerusalém e ensina à multidão. Surgem os escribas e fariseus, quer dizer, os notáveis religiosos atentos ao respeito à Lei. Eles põem diante de Jesus uma mulher surpreendida em flagrante delito de adultério, e lembram a ele que a Lei de Moisés ordena o apedrejamento como castigo para esse delito. O objetivo deles é pôr Jesus à prova. Desconfiam de que Jesus se recuse a mandar aplicar a Lei determinada por Moisés.
Em vez de responder, Jesus se abaixa e traça algo na terra. Ninguém sabe o que ele escreveu, mas, segundo sabemos, são as únicas palavras que ele escreveu de
próprio punho. É claro que, abaixando-se, ele recusa o confronto violento do olhar com
seus interlocutores. Ele deixa passar um momento de silêncio, se ergue e lhes diz: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o
primeiro a lhe atirar uma pedra.” Em seguida, sempre evitando o confronto, abaixa-se e continua a escrever na terra.
Os acusadores da pecadora se retiram então um a um, “A começar
pelos mais velhos”, diz o Evangelho. Ficando sozinho diante da mulher, Jesus pôde então erguer-se. Ele não procurou humilhar seus acusadores, encarando-os; ele se apagou, retirou-se, para deixá-los a sós com sua consciência. Foi também o
melhor modo de salvar a vida daquela infeliz que foram buscar ao amanhecer no
leito do amante, e que eles arrastaram, provavelmente nua, até o átrio do Templo.
Fazendo um círculo em torno deles, a multidão e seus
discípulos assistiram em silêncio, cuja intensidade dramática
se pode adivinhar. Somente então ele se dirige à acusada: “Mulher, onde estão
eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, senhor.” Disse então
Jesus: “nem eu te condeno;
vai, e de agora em diante, não peques mais” (João, 8:1-11).
Jesus se recusa, pois, a aplicar a pena
prevista pela Lei. Evidentemente, ele reconhece a realidade do erro, já que lhe pede para não mais pecar. Mas certamente julga a pena desproporcional e sente compaixão pela
mulher, como, aliás, por todos os pecadores que ele encontra. Com esse gesto, ele testemunha que o perdão suplanta a Lei e, sobretudo, que ele é
infinitamente mais eficaz para salvar as almas de sua cegueira.
Jesus mostra que o amor e a compaixão estão acima da justiça. É preciso, de certo, que haja regras, leis, limite, e em parte alguma
ele contesta a necessidade disso. Para ele, porém, a aplicação da justiça se deve fazer com
misericórdia, levando-se em conta cada
pessoa, sua história, o contexto, e também a intenção, o que se passa na
intimidade da alma, que ninguém pode sondar e muito menos condenar de fora.
Essa questão permanece de uma atualidade candente. Pode-se constatá-lo por um caso
recente (março de 2009), acontecido no Brasil, o caso da menininha de 9 anos que engravidou de gêmeos depois de ter sido violentada pelo
padrasto. O arcebispo do Recife excomungou
a mãe e a equipe médica que praticou o aborto para salvar a vida da menininha. O cardeal Batista Re, prefeito da Congregação dos Bispos e braço
direito do papa Bento XVI, confirmou a
sentença, explicando que o arcebispo somente tinha posto
em prática o direito canônico que
excomunga, de fato, qualquer pessoa que pratique o aborto, por qualquer motivo que seja.
Imaginemos a cena evangélica transportada para hoje: os cardeais e os especialistas em Direito Canônico fazem comparecer a mãe da menininha e o médico diante de Jesus e lhes dizem: “A Lei nos ordena excomungá-los. O que vocês
acham?” Facilmente adivinhamos o resto... E pensamos que, decididamente, a história não
para de se repetir!
Jesus veio dizer que o amor dá todo o sentido à Lei, que a justiça sem misericórdia perde em
humanidade e sentido, e que, no fim das contas, só existem casos particulares.
Jesus explica que, quando o amor divino, dado pela graça com a cooperação do homem, se enraíza nos corações, deixa de ser um
esforço. Ele jorra como uma “água viva” (João, 4), dá
liberdade, felicidade, alegria. Não é mais o prazer ligado à satisfação do desejo. É a alegria do dom. Uma experiência que todos podem ter: a alegria de dar gratuitamente, sem nada esperar
em troca, nem mesmo um agradecimento ou um sinal de
gratidão. É uma experiência que, todos os dias, têm os que consagram totalmente a vida a Deus ou ao próximo.
A busca do “Ser” e
da responsabilidade - individual e coletiva - pode nos salvar de nós mesmos. É o
que nos ensinam, há mais de dois milênios, cada um a seu modo, Sócrates, o
filósofo ateniense, Jesus, o profeta judeu palestino, e Sidarta, chamado Buda,
o sábio indiano.
Entre os pontos comuns de suas vidas, um é
bastante singular: Buda, Sócrates e Jesus não deixaram nada escrito.
Muito bom esse Livro.
Livro:
Sócrates, Jesus, Buda
Autor:
Frédéric Lenoir
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