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quinta-feira, 10 de março de 2016

Três Mestres de Vida



O importante não é viver,
mas viver segundo o bem.
SÓCRATES

Há mais alegria em dar
do que em receber.
JESUS

Que todos os seres sejam felizes.
Nascidos ou ainda por nascer,
que sejam todos perfeitamente felizes.
BUDA


Sócrates, Jesus e Buda nos ensinam a viver. O testemunho de suas vidas e o ensino que eles propõem é universal. A mensagem deles centra-se no ser individual e em seu crescimento, sem jamais negar a necessária inserção no corpo social. Sugere uma sábia dosagem de liberdade e de amor, de autoconhecimento e de respeito pelo outro. Embora se enraíze de diversas formas em bases de crenças religiosas, ela nunca é friamente dogmática: sempre tem sentido e recorre à razão. E também fala ao coração.

Jesus chega de manhã cedo ao átrio do Templo de Jerusalém e ensina à multidão. Surgem os escribas e fariseus, quer dizer, os notáveis religiosos atentos ao respeito à Lei. Eles põem diante de Jesus uma mulher surpreendida em flagrante delito de adultério, e lembram a ele que a Lei de Moisés ordena o apedrejamento como castigo para esse delito. O objetivo deles é pôr Jesus à prova. Desconfiam de que Jesus se recuse a mandar aplicar a Lei determinada por Moisés.

Em vez de responder, Jesus se abaixa e traça algo na terra. Ninguém sabe o que ele escreveu, mas, segundo sabemos, são as únicas palavras que ele escreveu de próprio punho. É claro que, abaixando-se, ele recusa o confronto violento do olhar com seus interlocutores. Ele deixa passar um momento de silêncio, se ergue e lhes diz: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” Em seguida, sempre evitando o confronto, abaixa-se e continua a escrever na terra.

Os acusadores da pecadora se retiram então um a um, “A começar pelos mais velhos”, diz o Evangelho. Ficando sozinho diante da mulher, Jesus pôde então erguer-se. Ele não procurou humilhar seus acusadores, encarando-os; ele se apagou, retirou-se, para deixá-los a sós com sua consciência. Foi também o melhor modo de salvar a vida daquela infeliz que foram buscar ao amanhecer no leito do amante, e que eles arrastaram, provavelmente nua, até o átrio do Templo.

Fazendo um círculo em torno deles, a multidão e seus discípulos assistiram em silêncio, cuja intensidade dramática se pode adivinhar. Somente então ele se dirige à acusada: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, senhor.” Disse então Jesus: “nem eu te condeno; vai, e de agora em diante, não peques mais” (João, 8:1-11).

Jesus se recusa, pois, a aplicar a pena prevista pela Lei. Evidentemente, ele reconhece a realidade do erro, já que lhe pede para não mais pecar. Mas certamente julga a pena desproporcional e sente compaixão pela mulher, como, aliás, por todos os pecadores que ele encontra. Com esse gesto, ele testemunha que o perdão suplanta a Lei e, sobretudo, que ele é infinitamente mais eficaz para salvar as almas de sua cegueira.

Jesus mostra que o amor e a compaixão estão acima da justiça. É preciso, de certo, que haja regras, leis, limite, e em parte alguma ele contesta a necessidade disso. Para ele, porém, a aplicação da justiça se deve fazer com misericórdia, levando-se em conta cada pessoa, sua história, o contexto, e também a intenção, o que se passa na intimidade da alma, que ninguém pode sondar e muito menos condenar de fora.

Essa questão permanece de uma atualidade candente. Pode-se constatá-lo por um caso recente (março de 2009), acontecido no Brasil, o caso da menininha de 9 anos que engravidou de gêmeos depois de ter sido violentada pelo padrasto. O arcebispo do Recife excomungou a mãe e a equipe médica que praticou o aborto para salvar a vida da menininha. O cardeal Batista Re, prefeito da Congregação dos Bispos e braço direito do papa Bento XVI, confirmou a sentença, explicando que o arcebispo somente tinha posto em prática o direito canônico que excomunga, de fato, qualquer pessoa que pratique o aborto, por qualquer motivo que seja.

Imaginemos a cena evangélica transportada para hoje: os cardeais e os especialistas em Direito Canônico fazem comparecer a mãe da menininha e o médico diante de Jesus e lhes dizem: “A Lei nos ordena excomungá-los. O que vocês acham?” Facilmente adivinhamos o resto... E pensamos que, decididamente, a história não para de se repetir!

Jesus veio dizer que o amor dá todo o sentido à Lei, que a justiça sem misericórdia perde em humanidade e sentido, e que, no fim das contas, só existem casos particulares.


Jesus explica que, quando o amor divino, dado pela graça com a cooperação do homem, se enraíza nos corações, deixa de ser um esforço. Ele jorra como uma água viva” (João, 4), dá liberdade, felicidade, alegria. Não é mais o prazer ligado à satisfação do desejo. É a alegria do dom. Uma experiência que todos podem ter: a alegria de dar gratuitamente, sem nada esperar em troca, nem mesmo um agradecimento ou um sinal de gratidão. É uma experiência que, todos os dias, têm os que consagram totalmente a vida a Deus ou ao próximo.

A busca do “Ser” e da responsabilidade - individual e coletiva - pode nos salvar de nós mesmos. É o que nos ensinam, há mais de dois milênios, cada um a seu modo, Sócrates, o filósofo ateniense, Jesus, o profeta judeu palestino, e Sidarta, chamado Buda, o sábio indiano.

Entre os pontos comuns de suas vidas, um é bastante singular: Buda, Sócrates e Jesus não deixaram nada escrito. 

Muito bom esse Livro.

Livro: Sócrates, Jesus, Buda
Autor: Frédéric Lenoir

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