“Ficaria decepcionada se o
Lula aceitasse um convite para ser ministro”, ouço de minha mulher, Erika.
Não tinha ainda refletido
detidamente sobre o assunto, mas a frase de Erika me estimulou a fazer isso.
Por que alguém
progressista como ela se decepcionaria?
A resposta padrão é mais
ou menos esta: Lula ganharia foro privilegiado e se livraria das garras de
Moro, mas mostraria medo. Ficaria claro, para muita gente, que ele tem algo a
esconder.
Ora, ora, ora. Não poderia
discordar mais.
Se Lula estivesse numa
disputa com Mujica ou com o papa Francisco, eu concordaria.
Mas ele está medindo
forças – involuntariamente – com forças que lembram não Mujica, não Francisco,
mas Al Capone.
Você tem que jogar o jogo
conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade.
Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que
temos.
Avalie os escrúpulos e o
caráter dos que estão do outro lado. A Globo e a família Marinho, Aécio, FHC, a
Veja e os Civitas, a Folha e os Frias, Moro e a PF, e isso para não falar dos
Eduardos Cunhas e dos Conserinos.
Eles querem preservar seus
formidáveis privilégios, e para isso buscam loucamente um golpe sob os
pretextos mais esdrúxulos.
Desde a saída dos
resultados, a vitória de Dilma é contestada da maneira mais infame possível. A
desculpa A não colou? Vamos para a B. Também ela não vingou? Passemos para a
desculpa C. E nisso foi um alfabeto inteiro de pretextos que escondiam uma
única coisa: um golpe. Um crime de lesademocracia que jogaria, ou jogará, o
país mais de meio século para trás.
Os índios americanos
entraram na história por episódios de resistência épicos em que opunham
pedrinhas às balas dos predadores brancos.
É lindo, é comovente, mas
é claro que eles usariam outras armas se as tivessem.
Contra predadores, e é
disso que se trata, você tem que ajustar sua estratégia à índole dos inimigos.
Lula já errou
demasiadamente nisso.
Por exemplo. FHC nomeou um
amigo para a Procuradoria Geral da República, o tristemente famoso Brindeiro,
engavetador de qualquer coisa que pudesse embaraçar a presidência.
Lula se recusou a nomear
uma réplica de Brindeiro. Colocou o primeiro da lista que lhe foi passada pelos
procuradores.
Deu no que deu.
No STF, ele fez o mesmo.
FHC indicou juízes como Gilmar Mendes. Uma das primeiras indicações de Lula foi
Eros Grau, de conhecida simpatia pelo PSDB. (Fez campanha por Aécio em 2014).
Isso não é republicanismo.
É ingenuidade, é tolice, é não enxergar do que são capazes os que detestam você.
A direita prega para os
rivais um republicanismo que ela jamais praticou.
A hora dura pede ousadia,
pede inovação. Lula como ministro é uma resposta a quem deseja apenas tirar
Dilma do jeito que for e impedir que Lula concorra em 2018.
A reação popular seria
esta. Os que detestam Lula continuariam a detestá-lo. Os que o amam
continuariam a amá-lo.
Que as urnas digam, em
2018, qual destes grupos é maior.
Paulo Nogueira, é
jornalista, fundador e diretor do site de notícias e análises Diário do Centro
do Mundo
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