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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Amigo e inimigo: quem é quem na política?




Na política, os conceitos de amizade e inimizade são ambíguos. Tanto que constituem temas clássicos, merecendo uma infinidade de análises e sentenças.

O realismo político desconfia muito da amizade. Este é um sentimento próprio das relações pessoais, indivíduo a indivíduo, intrinsecamente subjetivo, destituído de interesses, fundado na afeição. Por sua própria natureza, então, acomoda-se mal no mundo mais impessoal e "interesseiro" da política.

O pensamento "realista" prefere sempre lidar com interesses do que com sentimentos. Interesses são definidos, quantificáveis, suscetíveis de negociação. Sentimentos são ocultos, arbitrários, volúveis e demandam uma reciprocidade não quantificável.

Segundo o rei Henrique IV: "A maneira mais certa de desfazer-nos de um inimigo é fazer dele um amigo". A atmosfera do poder, se não torna a amizade impossível, por certo impõe tensões muito desagregadoras a ela. No mundo em que o governante desenvolve suas atividades não há muito espaço para amizades.

Amigos exigem muito e esperam muito, na forma de atenção, consideração e compreensão.

Amigos tendem a atribuir um significado ao conceito de lealdade do chefe para com eles, que extrapola em muito os limites toleráveis para quem tem a responsabilidade de governar.

Amigos exigem uma solidariedade irrestrita e imediata a qualquer momento em que entrem em dificuldades, que será paga pelo governante em "moeda política", que com tanto esforço acumulou. Amigos, pois, tendem a desenvolver expectativas exageradas e desproporcionais do governante.

Tais expectativas - compreensão, paciência, consideração, solidariedade irrestrita - são perfeitamente justas e adequadas no contexto de relações pessoais privadas. Transpostas para o mundo da política, que na sua lógica própria não as reconhece, tornam-se politicamente onerosas e até tirânicas. Por estas razões, amigos no governo estão sempre à "beira da decepção" com seu amigo poderoso, na iminência do rompimento da amizade.

Há sempre alguns amigos que são capazes de fazer a distinção entre as duas situações - amizade na vida privada e na vida pública. São poucos, mas são valiosos. Você os reconhece porque eles não lhe criam problemas. Antes, resolvem-nos, mesmo ao custo de prejuízo pessoal, e você só fica sabendo muito depois.

A outra marca deles é a de não opor obstáculos e não desenvolver hostilidade com os novos amigos ou colaboradores que você atrai para seu círculo mais próximo. Destes amigos, o governante deve cercar-se. Eles serão o apoio mais importante nos piores momentos. Dos outros deve afastar-se.

Por Francisco Ferraz