A história da morte de Sócrates e de sua
acusação nos foi transmitida de forma magistral através da obra de Platão
(1997): Apologia de Sócrates. “Somos privilegiados por podermos ler
aquela simples e corajosa (senão legendária), ‘apologia’, ou defesa, na qual o
primeiro mártir da filosofia proclamou os direitos e a necessidade de livre
pensamento [...]” (DURANT, 1996, p. 30).
Sócrates morreu em 399 a.C., acusado e
condenado de impiedade, ateísmo (não crer nos deuses dos atenienses) e
corromper a juventude: “mas, por trás de tais acusações, escondiam-se
ressentimentos de vários tipos e manobras políticas” (REALE; ANTISERI, 2007, p.
93).
Ânito,
Meleto e Lícon são os acusadores do processo que irá condenar Sócrates. E
apesar de não constar nas acusações motivações políticas, a verdade é que
Sócrates incomodava seus acusadores porque sua fala em praça pública
embaraçava, incomodava e até mesmo destruía reputações de sabedoria. “As
acusações de impiedade, de criação de novas divindades e de corrupção dos
jovens são, no fundo, apenas cortina de fumaça: Meleto, Ânito e Lícon se
mancomunam para atacar Sócrates porque tomam as dores daqueles que ele
submetera ao seu interrogatório inquiridor” (GOTO, 2010, p. 118).
Condenado à morte através da Cicuta
(veneno que ele deveria beber), seus discípulos e amigos mais próximos até
chegaram a subordinar os guardas da prisão oferecendo à Sócrates a
possibilidade de fuga, mas ele recusou. Sobre a serenidade de Sócrates diante
da morte iminente, e a despeito da aflição de seus discípulos pelo seu fim
próximo, assim se refere Xenofonte (Les Helléniques, 1967, II, III, 56 apud
GOTO, 2010, p. 110): “há uma coisa que me parece admirável neste homem: é que
em face da morte ele não perdeu nem sua presença de espírito nem seu bom
humor”.
Com a morte do sábio Sócrates, Atenas “perde a oportunidade de
preservar e manter consigo aquele que, muito mais do que propor uma filosofia
de caráter ou conteúdo democrático, praticava a democracia na forma mesma de
seu filosofar, vivendo esse filosofar como uma ação entranhadamente
democrática” (GOTO, 2010, p. 122).
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